terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Por que ser normal?

Estar com minha tia Linda nunca é maçante. Sempre temos algo para fazer, e não nos importamos com aquela coisinha que incomoda muita gente, a mente coletiva - jamais andamos à cata de aplausos. Vocês deviam tentar, é bem interessante. Por isso, nada nos impede de tomarmos sorvete 23:00 quando temos de apelar por mais um, então olhamos vitrines interessantes, seguimos já à meia noite uma trilha de formigas para ver onde é o formigueiro, a qual por sinal se estende por várias quadras; nada nos impede de encontrarmos em um lixeiro qualquer uma planta e a roubarmos para ver se ainda pega, de ficar dando voltas e voltas nas ruas da cidade para olhar qualquer coisa que pareça interessar mas na verdade não importa nem um pouco. É isso, não importa. A noite é linda e fazemos o que queremos. Lembro quando eu era menor, eu e ela voltávamos de Toledo por uma estradinha de chão entre plantações de soja, milho, e o céu era maravilhoso, as estrelas brilhavam intensamente, ou outras vezes quando um temporal se aproximava, e nós encostávamos a camionetinha no meio do vazio e da escuridão, sentávamos na carroceria e ficávamos assistindo ao espetáculo terrificante e celestial dos raios e das nuvens ferozes vindo em nossa direção, trazidas pelo vento selvagem que roçava nosso rosto e levantava nossos cabelos, enquanto minha tia dizia apenas que o tempo estava feio, que uma tempestade viria, mas a forma como ela falava deixava aquilo tudo tão mágico e assustador - era de arrepiar. É um prazer de cidade do interior. Bons tempos. Gente normal nunca teria tempo para isso, para aproveitar a solidão gostosa que mora nas ruas das noites, observar os detalhes das lojinhas e vendas, observar as flores, plantas, insetos... Observar gente sem gente. Como vivem gentes que estão em suas casas indo dormir, ou assistindo à novela com cara entediada no sofá, ou pior, enfurnados no computador achando coisas, achando errado. Tenho até pena de quem se acha tão normal e correto que não aproveita os pequenos prazeres, as aventuras da vida.

Olha minha cara de normal.
Boa noite para você, fique bem!                                  

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